"Achas que conheces a história. Mas apenas sabes como ela termina. Para chegares ao coração da História, deves voltar ao começo."
quinta-feira, 5 de julho de 2012
A Maçã
Este é um jornal feminista do século XIX, baseado na realidade feminina da época.
O jornal é parte de um trabalho realizado em julho de 2010, apresentado no Coecin (Feira do Conhecimento) da escola Coeducar - Viçosa, Minas Gerais, Brasil. As quatro escritoras são: Marina Resende, Cecília Resende, Isadora Urbano e eu (Marina Mendonça), na época alunas do 9º ano. O trabalho foi supervisionado por Carla Beatriz e Maura Crepalde, professoras de Língua Portuguesa e História, respectivamente. Também contamos com a ajuda do professor de Geografia, Guilherme Monteiro, que nos ajudou na escolha do nome e na elaboração do editorial. Outra ajuda de grande importância foi a leitura do jornal A Família, um verdadeiro jornal feminista do século XIX.
EDITORIAL.
A maçã não é apenas um pomo de pele rubra e polpa branca, é também o símbolo do conhecimento, o fruto proibido da árvore da ciência, ingerido por Adão e Eva ainda na aurora dos tempos.
Eva comeu do fruto e levou-o a Adão. Ao morderem-no os dois ficaram cientes de tudo que lhes acontecia, souberam de todas as coisas boas e ruins. Ao longo dos séculos, acreditou-se que a mulher era a culpada por levar Adão ao pecado.
Mas não seria Eva responsável por levar o bem da ciência à humanidade?
Esse periódico pretende ser a maçã dos tempos atuais, nos quais parece ter sido perdido o saber. Tem como objetivo trazer a luz do conhecimento às mulheres e, dessa vez, tirá-las de um outro lugar, um outro paraíso, dado por uma sociedade machista conforme o gosto de seus eternos patriarcas.
CRÍTICA.
Aqui está o triste espelho do modo como vivemos (e depois tornam a nos exigir a resolução de todos os assuntos relativos ao lar!):
Esposa: John! Onde está o resto de nosso salário?
Como eu vou pagar o aluguel e comprar comida para as crianças?
Marido: Cale a boca! O que eu faço com meu dinheiro não é problema seu.
HOMENAGEM.
Reservo o presente espaço para homenagear brilhantíssimas mulheres que, nessas últimas décadas, levantaram-se e romperam barreiras para protestar e causar alguma mudança.
Cito Nísia Floresta Brasi-leira Augusta, autora de diversos livros em prol da emancipação.
Lembro o nome de Josefina Álvares de Azevedo, fundadora do jornal “A Família”, grande voz de protesto.
Chamo, ainda, a pessoa de Francisca Senhorinha da Motta Diniz, dona do ousado semanário O Sexo Feminino.
“Queremos a instrução pura para conhecermos nossos direitos, e deles usarmos em ocasião oportuna. Queremos, enfim, saber o que fazemos, o porquê e pelo que das coisas. Só o que não queremos é continuar a viver enganadas” – F. S. Motta Diniz
- C. R. Santos
CHRONICA DA VIDA QUOTIDIANA.
Certa vez, num jantar em casa de um conhecido, a mulher do anfitrião contava sua rotina a um grupo de convidados. A descrição era enfadonha, mas curta. O dia resumia-se a cuidar dos filhos e do marido, quando este estava em casa, e alvoroçar-se com as vizinhas. Repito, era um discurso enfadonho, pois que se aplica mais ou menos igual a todas as mulheres deste nosso tempo.
Estamos sempre servindo aos maridos e aos filhos, quando homens, posto que grande parte do que fazemos a nossas filhas vai, direta ou indiretamente, servir aos seus futuros maridos. Vivemos sob a constante avaliação dos nossos esposos e da sociedade que controla, com uma versão inusitada da mão invisível de Smith, esse comportamento nosso.
Ninguém se surpreenderia agora, se ficasse sabendo que o anfitrião do dito jantar não conteve um meio sorriso de orgulho ao ouvir o relato de sua mulher. Pois sua esposa não era um exemplo? e toda ocasião não é ocasião de promover-se? e a senhorinha não estava cumprindo muito bem o seu papel, afinal?
Essas conclusões refletem bem o que aqui tento evidenciar. O dia-a-dia da mulher, segundo a ética da sociedade, deve ser em casa; foi reservado a ela o trabalho de cuidar dos filhos e das costuras e dos homens, que não sabem cuidar-se de si próprios, e nada mais. Qualquer cousa mais leva a cochichos, burburinhos, escândalo. E isto é simplesmente o manifesto de uma pressão realizada continuamente pelo meio, infelizmente conformada e, muitas vezes, aceita.
“Desesperai, mulheres que não seguirem este padrão! voltai correndo para tuas casas, e praticai os bons modos! pensai e chorai, chegai até o âmago de teu franzino ser, e, quando voltar ao juízo, aprendei de uma vez o teu lugar”.
Isto não quero mais ouvir.
- C. R. Santos
A EDUCAÇÃO NOS NOSSOS TEMPOS.
Caras companheiras, vivemos numa sociedade em que nossos direitos são reprimidos e inescrupulosamente vetados. Nossas obrigações básicas, ditadas à risca por homens de mente estreita, são a submissão e subserviência. Em tese, não deveríamos lutar por melhorias, porque somos consideradas o sexo frágil e desprotegido, o qual não pode obter conhecimento ou qualquer autonomia para liderar conscientemente a própria vida.
Trago à tona um dos temas mais preocupantes da nossa condição, feminina. A educação.
Amigas, não é revoltante que passemos por tudo isso com a voz abafada pela discriminação?
Dentro de casa, passamos por conflitos familiares, violência doméstica – tanto física quanto psíquica -, depressão. E por quê? Por que nos submetemos a isso?
Impuseram-nos necessidades que antes não existiam, levando em conta o nosso valor. Podemos mais que apenas chamar a atenção com cabelos, pele, roupa, jóias e modos expostos a julgamento.
Os homens hoje acreditam que devemos desenvolver habilidades como o encanto e a sedução, o adestramento do espírito, se quisermos conquistar, efetivamente, alguma influência. Vêem-nos como uma raça inferior. E é exatamente esta a visão extremista que nos vem sendo transmitida há gerações. Nossos pais trataram assim nossas mães, e do mesmo modo os nossos maridos e filhos nos tratarão, se não dermos um “basta” a isso.
Em quem nos inspiramos até hoje? Não é possível negar que somos reflexos de nossos pais, em todas as suas atitudes e pensamentos, até que resolvamos perceber o quão ridículo é o papel a que nos sujeitamos. Nós, mulheres, sofremos muitas privações se quisermos seguir o modelo burocrático e artificial do século, no qual estamos estagnadas pelo preconceito e pelas limitações provenientes do machismo arraigado, obstinado.
O que esperam de nós é que passemos horas na toalete, recebamos visitas, passeemos nos bulevares e jantemos fora. Não podemos isolar-nos em casa, pois nossa vida social, teoricamente, é mais importante e apropriada que o contato com nossos familiares. Acreditam que nosso espírito deveria ser nutrido pela constante aprovação – ou não, pela qual somos sufocadas.
Não devemos manter-nos passivas à situação. Devemos intervir de forma crítica. Não criticar de modo despropositado, e sim tendo fundamentos e convicção sobre o que queremos reivindicar. E são os nossos direitos, nossos direitos de cidadãs, que nos foram tomados sem qualquer premissa.
A obrigatoriedade escolar surgiu na Prússia, com Frederico Guilherme I, que ainda no século XVIII aplicou a norma num grande Estado. Frederico Guilherme II, seu sucessor, colocou em prática o conceito do ensino laico (totalmente dissociado da Igreja); com o Regulamento geral nacional escolar assegurou a obrigatoriedade escolar para todas as crianças entre cinco e catorze anos e moveu a preparação de mestres.
No fim do século, com a Revolução Francesa, tivemos a Assembléia Constituinte, a Assembléia Legislativa e a Convenção – girondina e jacobina -, que trataram da educação pública.
Se desejássemos um sistema de ensino igualitário e eficiente, deveríamos inspirar-nos nesses modelos para alcançá-lo. Deve haver a obrigatoriedade do ensino de acordo com a faixa etária; o ensino deve ser gratuito; a Educação deve ser verificada (em outro termo: controlada) pelo Estado; deve haver uma rede de escolas; a contratação de professores deve ser regularizada, tal qual os currículos e padronização do ensino; devem haver órgãos e verba, especificamente para as questões educacionais.
Da independência do país até 1822, todas as questões relacionadas à educação
provinham do Governo Imperial. Podem já deduzir que o Governo Imperial foi constituído por homens, e estarão corretas.
Em 1824, Pedro I estipulou na Constituição a instrução primária, gratuita para todos os cidadãos. Inicialmente, foi um avanço, mas a prática mostra que só o ensino primário não é suficiente. Queremos saber mais! Negam-nos a luz do conhecimento por razões recrimináveis. Caras mulheres, acredito que não somos, de forma alguma, o sexo frágil. Não disponibilizam-nos o conhecimento por medo, já que temos muitos mais planos e autocontrole. Percebem em nós a natureza para o domínio dentro do lar, onde, mesmo com todas as formalidades, seguindo a etiqueta, orientamos nossos filhos, ouvimos nossos pais, cuidamos de casa, comida, roupa.
Em 1840, a Bahia já tinha posse de 132 escolas primárias. 124 das mesmas eram masculinas. Apenas oito eram direcionadas ao público feminino.
No ano de 1870, o Barão de São Lourenço, então presidente da província reformou amplamente o sistema educacional, podendo-se dividir a reforma em quatro subtítulos: Escola Normal dos Homens, Escola Normal das Mulheres, Reforma do Liceu e Reforma da Instrução Primária. O curso de formação de professores também foi modificado na ocasião. O masculino seria de dois anos e externato, enquanto o feminino seria de três anos e regime interno.
1871. O Barão passou a admitir cursos primários mistos. Meninos de até sete anos poderiam estudar em colégios femininos.
Em 1881, o ministro Leôncio de Carvalho introduziu ao ensino primário as disciplinas de Lição de Coisas, Civilidade, Desenho Linear e Elementos de Ciências Naturais.
Em 5 de setembro de 1889, foi sancionada a lei de recomendação da abertura de novas escolas mistas. Recomendava também o uso de processos intuitivos, o horário letivo de seis horas diárias e regime de internato.
A obrigatoriedade dos estudos, mesmo sendo muito sugerida e incentivada, não teve realização, distanciando ainda mais a pretensão de educação básica universal, só ocorrendo depois do advento da República. Como sempre, preferem manter poucos com o conhecimento que todos deveriam obter!
Devemos unir-nos, expressar nossas opiniões, sim. É disso que nossa sociedade, afinal, precisa! Estamos fartas de lenços e modos, precisamos de atitude!
- I.R.Urbano
SOBRE A MULHER E AS PROFISSÕES.
Entristece-me ver como os homens de faces e escritos os mais revolucionários caem-se, ao se tratar de mulheres, nas seguintes afirmações: “a mulher é destinada a servir à vida e ao coração dos homens e de seus filhos; e é este seu único ofício”, ou ainda “a cabeça e pensamento da mulher não foram moldados a fim de raciocinar, produzir e contar. Declara-se em seus atos sua fragilidade e incompetência para com os trabalhos de homem – política, economia, comércio, jurisdições e outras tantas complexidades do nosso sistema”.
Irrita-me em profundidade ler ou ouvir de um entusiasta da melhora da educação e instrução da mulher, e erradicação de sua ignorância, a afirmação de algo que se traduziria como ignorância inata da mulher: sua incapacidade de atuar nos ramos e labores a que se dedicam os homens, seja por sua fraqueza e instabilidade ao lidar com o ambiente corporativo; seja pela infundada conclusão de que uma mulher que trabalha abandona à própria sorte os filhos e o marido (ora, querem dizer então que eles é que de nós dependem?). Contradizem-se com freqüência, vê-se.
Muitos clamam que a mulher, num meio de trabalho, seria exposta às regras de conduta masculina, que por sua vez a humilhariam e lhe tirariam a dignidade – dizem “pobres delas! Engolem disparates e ofensas para depois derramarem suas mágoas em casa, onde confusas, não entendem que se submetem a condições que não foram a elas designadas”. O desrespeito dos homens não nos deterá, devem saber - até porque, o desrespeito e limitação silenciosos nos cortam com faca muito mais afiada.
Já aqueles que, com superficial tom de ultraje, falam do abandono da família, nada mais podem dizer se, por luta tanto masculina quanto feminina, for reduzida a pesada carga horária e engordados os salários e reafirmados os direitos de tratos e saúde básicos do trabalhador, contribuindo de um modo geral para o bem-estar de todos os membros da família e presença atuante dos pais e mães na vida dos filhos.
Ainda há alguns que, agora para meu ultraje, resistem, dizendo que a mulher, diante de um primeiro e natural (por sua condição de fraqueza e inadequação) fracasso na execução de um labor “masculino”, como a política, se torna obcecada pelo êxito, dedicando-se com tão cego afinco ao seu melhoramento que se esquece de seus familiares e dos cuidados que a ela cabe, por obrigação, lhes dar. A mim me parece, em contrapartida, que negligenciar os filhos é o que os homens já fazem, pois perderam a noção de que o amor à criança supera as ambições.
Afirmo ainda que “incapacidade inata" não temos, pois muitas mulheres já se provaram inclusive mais capazes que homens, guerreiras fiéis tais como Joana D’Arc e as lutadoras da Revolução de 1794; pensadoras contundentes como Olympes de Gouges; e as heroínas anônimas de todos os dias, que passam despercebidas, encobertas por um véu preso a correntes.
De fato, se há uma falta de habilidade, esta nos foi criada, ou imposta. Poderíamos aprender os ofícios da política e das leis, e dos cálculos e medidas, e do próprio ensinar e da história, e das artes médicas (no estrangeiro criaram-se as primeiras escolas de enfermagem para mulheres, a muito custo e suor destas, que desejo com fervor que se alastrem por nossas bandas), se nos fosse concedida a oportunidade, sendo que o labor e a instrução devem estar ligados. Não conheço um cavalheiro que saiba coser e cozinhar, mas, se desafiados, todos se diriam capazes de aprender.
Tendo rebatido as principais afrontas ao trabalho da mulher, luto pela igualdade de todos os ofícios e profissões, pela abertura dos auditórios e mesas redondas e universidades às mulheres. Se reivindicamos educação, representatividade, voto, poder de escolha; reivin -dicamos o exercício dos labores hoje existentes, que trazem consigo nossa plena independência.
PARTE II – CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TRABALHO DA MULHER.
Em nossa belíssima Constituição, um artigo concede às mulheres o direito de trabalhar em empreendimentos privados, vetando–lhes o de ocupar cargos públicos. E, mesmo com este direito, pouco se faz dele uso, pois “a mulher que se preza”, diz-se, “não trabalha”, e a mulher pobre que tem de trabalhar ou não trabalha em empresa alguma, conseguindo de seu trabalho lavando e capinando e cozinhando um sustento próprio, irregular; ou trabalha numa empresa tal como fábrica e afins, e mesmo assim tem dificuldade de ser aceita para o operariado. Tanto como autônoma quanto como operária, a mulher é desrespeitada no ambiente de ofício. Se for de estirpe ou bem casada, ai daquela que, com uma –à custa disfarçada– falência da casa, faz-se a bordar, preparar doces, dar aulas de música, cuidar de crianças, pois tudo ao seu redor, especuladores e familiares e até o esposo, passam a diminuí-la em seu conceito.
Quanto a cargos públicos, conquistá-los é mister. É-nos proibido o acesso justo ao patamar mais influente da esfera dos trabalhos. Postar-se próximo a um governante é tudo nessa acirrada disputa por poder, o querer primeiro dos homens. Jamais se permitiria a uma mulher tal representação e alcance, mas talvez seja justo disto que precisemos para dar continuidade à nossa luta.
Pouco sabem os homens que as mulheres são a chave para aquilo que se movimenta em seu pensar, e que não distinguem. O que não faríamos para mudar um governo que nos traz insatisfação? Já é possível ver que a deposição do imperador não basta. É o anseio por mudança que acorda e bate sinos, à espera de que ao menos o som feroz das badaladas faça quebrar as muretas e colunas e portas trancadas de uma estrutura arcaica e secular.
- M.R.Santos
O VOTO.
Estamos em pleno século XIX e é terrível pensar que a mulher tem apenas a função de cuidar da casa, dos filhos, serem submissas aos homens e engolirem uma sociedade totalmente patriarcal e machista.
E lembro a todas que também não temos acesso às mesmas informações que os homens, principalmente no que se refere à escola e ao saber.
Além disso, não somos respeitadas, nem mesmo consideradas cidadãs. Tanto que atualmente, quem pode votar são apenas os maiores de 21 anos, alfabetizados e do sexo masculino. Apesar de na década de 70 do séc. XIX ser aprovada a emenda constitucional nº. 15 que garantira o direito ao voto aos homens de qualquer raça, cor e condição social. E diante disso nos perguntamos onde estão os nossos direitos? Onde está o nosso lugar na organização da sociedade? Não podemos mais ficar paradas assistindo a tudo isso acontecer. Temos de lutar pelos nossos direitos, pois, em relação aos homens estamos no mesmo patamar de igualdade, nem piores, nem melhores. Sendo assim não devemos ser submissas a eles.
Minhas amigas, temos de lutar e mostrar a eles que queremos o nosso lugar na política, queremos votar e governar. Assim poderemos decidir a nossa própria vida e o nosso Futuro.
E fico a pensar, por que temos que seguir regras ditadas pelos homens? Estes que são incapazes de organizar um lar e uma família, e por isso que nos encarregam disso, como podem ser capazes de organizar e governar um Estado?
- M. L. Mendonça
A INDUMENTÁRIA.
Sabemos muito bem o que são as vestimentas femininas, pois todos os dias gastamos o nosso tempo vestindo várias camadas de roupa.
Revolto-me sempre que penso nesse assunto, no qual mais uma vez os homens impõem suas regras sobre nós, e assim inocentemente aceitamos.
Mas por que temos de usar espartilhos e anáguas pesadíssimas? Temos que agradá-los sempre? Eu quero sentir-me livre disso, não quero ficar me sacrificando apenas para ter um corpo perfeito imposto pela sociedade, ou melhor, pelos homens (como sempre).
Vivemos apenas para servir o homem, e qual a utilidade disso? Transformamos a vida deles num paraíso, enquanto isso a nossa é um verdadeiro inferno.
- M. L. Mendonça
A JUSTIÇA.
Sabemos muito bem que assim que nascemos já somos julgadas pelo simples fato de sermos mulheres, e não por motivos
concretos. Isso vem de fatos acontecidos há milhares de anos,
com o primeiro casal do mundo, no qual Eva da o fruto do
conhecimento a Adão e é tida como a culpada de trazer o
pecado ao mundo.
Assim temos hoje leis diferentes para homens e mulheres, o que considero um absurdo, pois somos iguais aos homens e
nosso julgamento não deve ser diferente.
Um ótimo exemplo disso é a questão da fidelidade. Enquanto temos de ser puríssimas e fiéis aos nossos maridos, eles nos traem bem embaixo dos nossos narizes, e temos de aguentar caladas. Se fizermos o mesmo, somos duramente castigadas, condenadas por adultério com penas que chegam até a morte. E os homens saem impunes, e dizem das prostitutas que são um mal necessário!
- M. L. Mendonça
CIDADÃ OU CIDADOA.
[Publicado em A Família, 7 dez. 1889. p. 5. – Josefina Álvares de Azevedo]
Manda a
República agora
novo trato em moda pôr
já se não diz mais – senhora,
Ninguém mais já tem – senhor.
Excelência nem por graça;
foi-se a moda cortesã.
Dama altiva agora passa
a chamar-se cidadã.
Cidadã ou cidadoa,
pouco ao caso vai também.
Cá por mim, que tudo entoa,
vai a moda muito bem.
Como entanto há quem procura
diferenças no tratar;
para aquela que isso apura
bom conselho tenho a dar.
Dama nobre, d’alta proa,
d’espavento, tigre, enfim,
chamaremos cidadoa,
que melhor parece assim.
Bela dama, dona antiga,
sempre amável, boa e chã,
essa tratável amiga,
chamaremos – cidadã.
Cortejando, uma pessoa
deve dizer com afã:
- Saúde e paz, cidadoa;
- Paz fraterna, cidadã.
CENTENÁRIO.
Comemoramos nesse ano, de 1894, o centenário da Revolução Francesa.
Comemoramos, então, um século da luta pela “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, admirável meta que ainda não foi alcançada. Homenageamos as mulheres que lutaram e guerrearam pelos seus direitos, destemidas, mesmo sem sucesso absoluto.
Se aquela luta trouxe o que almejavam os homens, agora, é nossa vez de revolucionar. Avante!
CITAÇÕES.
"(...) os pais acreditavam que uma educação séria para suas filhas era algo supérfluo: modos, música e um pouco de francês seria o suficiente para elas. Aprender aritmética não ajudará minha filha a encontrar um marido, esse era um pensamento comum. Uma governanta em casa, por um breve período, era o destino habitual das meninas. Seus irmãos deviam ir para escolas públicas e universidades, mas a casa era considerada o lugar certo para suas irmãs. Alguns pais mandavam suas filhas para escolas, mas boas escolas para garotas não existiam. Os professores não tinham boa formação e não eram bem educados. Nenhum exame público (para escolas) aceitava candidatas mulheres".
(Louisa Garrett Anderson, depoimento escrito de 1839)
"Permanecer solteira era considerado uma desgraça e aos trinta anos uma mulher que não fosse casada era chamada de velha solteirona. Depois que seus pais morriam, o que elas podiam fazer? Para onde poderiam ir? Se tivessem um irmão, poderiam viver em sua casa, como hóspedes permanentes e indesejados. Algumas tinham que se manter e, então, as dificuldades apareciam. A única ocupação paga aberta a essas senhoras era a de governantas, em condições desprezadas e com salários miseráveis. Nenhuma das profissões eram abertas as mulheres; não havia mulheres nos gabinetes governamentais; nem mesmo trabalho de secretaria era feito por elas. Até mesmo a enfermagem era desorganizada e desrespeitada até que Florence Nightingale a tornasse uma profissão ao fundar a Nightingale School of Nursing (Escola Nightingale de Enfermagem) em 1860".
(Louisa Garrett Anderson, depoimento escrito de 1860)
“As mulheres devem ter o direito de subir à tribuna, já que têm a obrigação de subir ao cadafalso” - Olympes de Gouges, revolucionária francesa do século XVIII.
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